Leitura e Escrita – Uma Aprendizagem Complexa
Partindo do pressuposto de que a aprendizagem não é uma aquisição mecânica de capacidades perceptivas mas uma atividade cognitiva centrada na construção de um conhecimento, na qual um sujeito ativo se apropria do objetivo a ser apreendido. Emerge a necessidade de se compreender como se processa o aprendizado da leitura e escrita.
Nesse sentido, é fundamental conceber a língua escrita como um processo bastante complexo que envolve todo um sistema de representação simbólica da realidade e não mais como uma habilidade motora ou um código, cujos elementos e relações são dados previamente, pois como afirma Silva (1995 p.12)
Desse modo, é preciso entender que a escrita não é a simples transposição gráfica da linguagem oral. Vygotsky apud Silva (1995 p.12) assim caracteriza a escrita:
A leitura é uma atividade interacional de sujeitos sociais agindo na busca de determinados objetivos, visto que a leitura de um texto não é mera decodificação de sinais gráficos, mas a busca de sentidos, mediados pelo processo de produção e de leitura desse texto. Assim sendo, a interlocução se dá entre leitor/texto/autor, na qual o leitor não é passivo, mas o agente que busca significações.
Evidencia-se que a construção de sentidos se estabelece mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como lingüístico, o textual e o conhecimento de mundo, pois como bem afirma Koch (1997 p.25) "o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no curso de uma interação".
Assim para desvelar o que tem de implícito num texto e dele extrair um sentido, é preciso dominar determinadas habilidades lingüísticas, noções e conceitos sobre o texto, bem como fazer uso do conhecimento que se encontra armazenado na memória de cada indivíduo.
A prática de leitura e escrita no contexto escolar aponta inúmeros problemas entre eles, o que parece ser o grande nó da questão, é o fato de se colocar a leitura a serviço de memorização de regras gramaticais, onde o texto é apenas pretexto para o ensino de regras sintáticas, bem como o estudo do vocabulário e interpretação única do texto, feita pelo professor ou pelo livro didático.
Convém salientar que tal prática decorre principalmente, de concepções inadequadas sobre a natureza do texto e da leitura e, portanto, da linguagem.
Assim, o processo de leitura tem sido visto como decifração do código escrito e como modelo para se produzir outro texto, enfatizando-se a compreensão literal, levantamento do vocabulário e a análise lingüística, o que segundo Kleiman (1993p. 14) "propicia a formação de um pseudo-leitor, passivo e disposto a aceitar a contradição e a incoerência".
Assim, como bem afirma Kleiman (1993p.24)
"É necessário o conhecimento do professor na área específica de leitura (além, é claro, de sua formação lingüística), a fim de evitar a propagação de concepções obsoletas que apesar de serem comprovadamente ineficientes, são legitimadas pela falta de propostas alternativas."
Partindo da análise da realidade social brasileira, a leitura surge como instrumento que aliado a outros fatores proporcionará a educação crítica, pois à medida que o indivíduo insere-se em diferentes contextos sociais, analisando-os e posicionando-se frente a eles, exercita posturas argumentativas e participativas, propiciadoras de conhecimento e essenciais à conquista e ao exercício da cidadania.
Assim sendo, é fundamental concebê-la como prática social, inserida numa perspectiva dialétrica, visto que só assim poderá ser veículo impulsionador do nível de consciência crítica dos indivíduos, tão necessário à transformação social. Segundo Zilberman e Silva ( 1998p. 112)
"Compreendida dialeticamente, a leitura pode se apresentar na condição de um instrumento de conscientização, quando diz respeito aos modos como a sociedade, em conjunto, repartida em segmentos diferentes ou composta de indivíduos singulares, se relaciona ativamente com a produção cultural, isto é, com os objetivos e atitudes em que se depositam as manifestações da linguagem, sejam estas gestuais, visuais ou verbais (oral, escrita, mista, audiovisual).
Percebe-se que no contexto brasileiro a prática de leitura e escrita é privilégio de poucos.
"Numa sociedade como a nossa, em que a divisão de bens, de rendas e de lucros é tão desigual, não se estranha que desigualdade similar presida também a distribuição de bens culturais, já que a participação em boa parte destes últimos é mediada pela leitura,habilidade que não está ao alcance de todos, nem mesmo de todos aquele que foram à escola". Lajolo (1997 p. 106).
Assim é fácil entender que o domínio de tal prática transforma-se num forte critério de classificação entre as pessoas, desse modo é preciso encontrar caminhos que viabilize o acesso de todos a práticas significativas de leitura e escrita a fim de que os mesmos participem conscientemente da realidade social em que vivem e atuam.
A leitura é uma prática social que se reporta a outros textos e a outras leituras pois estabelece relações com um contexto maior, acionando sistema de valores, crenças e atitudes dos sujeitos-leitores, nesse sentido o aluno terá que conviver desde as séries iniciais com diferentes tipos de texto, vivenciando situações de questionamento, discussão e escrita junto com os seus companheiros e com a participação do professor.Assim sendo, os profissionais responsáveis pela iniciação na leitura e escrita devem ser bons leitores.
Desse modo, evidencia-se que o professor precisa gostar de ler, envolver-se com o que lê, a fim de tornar o aluno um leitor crítico de modo que a prática de leitura não se restrinja ao contexto de sala de aula mas se amplie para o contexto social, absorvendo e aprofundando o pensamento dialético.
Constatamos que a maioria até deseja vivenciar uma prática significativa de leitura e escrita que possibilite a formação de leitores críticos e criativos, o que lhes faltam é realmente um aprofundamento teórico que viabilize a vivência de tais práticas.
O que requer efetivamente um amplo processo de discussão, reflexão e análise de modo que estes profissionais intensifiquem questões teóricas de bastante relevância, visto que o espaço de capacitações promovido pelas instituições nas quais estão inseridos, ainda não foi suficiente para solucionar tal problemática, uma vez que isso é um processo lento, que deve ter como eixo norteador a criação de um ambiente de interação entre os professores, possibilitando-lhes a discussão e a troca de sua prática de sala de aula e, a partir daí, uma reflexão sobre os aspectos teóricos.

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